terça-feira, 6 de novembro de 2007

Manuel Pereira

5.1. As imagens de Manuel Pereira (*1588 - †1683) [na Igreja Conventual]

As estátuas do arco triunfal e dos altares do transepto vieram, segundo Fr. António da Encarnação, "do Reino de Castella"[1], feitas "por um insigne official; e por tal chamado áquella Corte, Portuguez, natural do Porto; merece eterna lembrança, por unico, e honra dos engenhos Portuguezes."[2]
Manuel Pereira é natural do Porto, da freguesia de S. Nicolau, onde nasceu em 1588, tendo sido educado, portanto, ainda dentro do gosto maneirista. A sua carreira, porém, foi feita em Espanha, de modo especial na corte de Madrid. A espanholização de Pereira é favorecida pela presença na vila de Madrid de correntes das escolas andaluza e castelhana[3].
Em 1624, encontramo-lo a trabalhar em Alcalá de Henares, onde esculpiu as quatro estátuas em pedra da frontaria da igreja da Companhia de Jesus: S. Pedro (hoje sem cabeça, e na qual está gravada a data de 1624) e S. Paulo, Sto. Inácio de Loiola e S. Francisco Xavier. Também nesta cidade lhe é atribuída a feitura (por volta de 1626) da estátua, também em pedra, de S. Bernardo da fachada da igreja do convento das Bernardas. "Era já um artista feito, adulto, sem vestígios daquilo que então se fazia em Portugal"[4].
É da sua autoria a celebérrima estátua em madeira de S. Bruno (anterior a 1635) da Cartuxa de Miraflores (Burgos)[5].
A sua obra principal encontra-se em Madrid[6], onde lhe é encomendada em 1631 a estátua lígnea de Sto. António para o retábulo do altar-mor da igreja de Santo António dos Portugueses (hoje com bastantes repintes)[7]. Também é da sua autoria a imagem pétrea da fachada da mesma igreja.
Na notícia que dele dá, Palomino chama-lhe “insigne escultor”[8]. Foi nomeado Familiar do Santo Ofício, título de que muito se ufana, e não voltou a casar após ter enviuvado em 1639. Morreu em Madrid em 29 de Janeiro de 1683, com a avançada idade de 95 anos.
Afirma Carlos Moura que são as estátuas de São Bruno, a já mensionada da Cartuxa de Miraflores (Burgos) e outra mais tardia que pertenceu à fachada da Hospedaria da Cartuxa do Paular em Madrid e que hoje se encontra no Museu da Academia de S. Fernando, que marcam a obra do escultor português “numa vertente barroca, ausente de qualquer dramatismo exacerbado.”[9] Pensamos que estas afirmações se podem aplicar também às estátuas de S. Domingos de Benfica.
Lembremos a propósito que, como diz Martín González, "Se a pintura da época oferece a crueza do naturalismo caravaggiesco, a verdade é que se conta também com o aristocratismo da escola de Bolonha.[10]"

Extracto de: Fr. António-José de ALMEIDA O.P. - «Imagines Sacrae» no Convento de São Domingos de Benfica. Lisboa: [Texto policopiado], 1999. 2 vols.

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[1] “De Madrid”, precisa Manuel da SILVA, Breve Sumario..., f. 7v. (Appêndice, Doc. 3, p. 20).
[2] A. ENCARNAÇÃO, "Addição … de Bemfica", in Hist. S. Dom., II Parte, L. II (vol. I, p. 889).
[3] J. J. MARTÍN GONZÁLEZ, Escultura Barroca en España, 1600-1770 [1ª ed. 1983], Madrid, Cátedra, [1991](2ªed.), p. 38.
[4] Pedro DIAS, A escultura maneirista portuguesa. Subsídios para uma síntese, Coimbra, Minerva, 1995, p. 31.
[5] Vd. Maria Elena GÓMEZ-MORENO, Escultura del siglo XVII, (col. Ars Hispaniae - Historia Universal del Arte Hispánico, vol. XVI), Madrid, Plus-Ultra, 1963, p. 107, fig. 91.
[6] Cf. Ibid., p. 109 e segs.
[7] Vd. Ibid., p. 107, fig. 89.
[8] A. PALOMINO, Vidas, pp. 206-207.
[9] Carlos MOURA, “Uma poética da refulgência: a escultura e a talha dourada”, in História da Arte em Portugal, vol. 8: O limiar do barroco, Lisboa, Alfa, [1987], p. 93.
[10] J.J. MARTÍN GONZÁLEZ, Escultura Barroca …, p. 143.

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